sábado, 14 de abril de 2012

Lista de ingredientes para um mundo melhor: 2. Amamentar




Lamento muitas vezes, não o facto de ter sido mãe muito nova - isso é um bónus, mas sim não ter compreendido coisas que só mais tarde pude compreender. Que por vezes há que deixar as coisas seguirem o seu rumo, que a Natureza é sábia, que os seres humanos ainda existem porque ainda são movidos pelo instinto, que não podemos sempre controlar tudo. Se com vinte anos soubesse isto, quando o S. nasceu teria podido amamentá-lo.

Sem dúvida, hoje em dia as alternativas são boas, um bebé alimentado de forma artificial cresce normal e saudável, à primeira vista parece não haver diferença entre um bebé amamentado e outro alimentado artificialmente. Ainda bem que ainda temos o instinto para nos dizer ao ouvido que nem tudo o que parece é.

O meu contributo para tornar o mundo melhor é, neste momento, incentivar todas as futuras mães a desejarem amamentar os seus filhos. É explicar-lhes que não importa que todos digam que o biberão é igual, ou até melhor, que alimenta mais, que o bebé engorda mais - e que isso é bom. É dizer às mães que acabam de ter um bebé que não estão sozinhas na dura tarefa de criar um recém-nascido exclusivamente ao peito, com pontos a doerem, mamilos gretados e olheiras que chegam ao queixo.

Chamem-se chata, chamem-me fanática, mas antes de perguntar como o bebé se vai chamar, provavelmente perguntarei se a mãe pensa amamentar. Antes de oferecer um quadro para o quarto do bebé, vou preferir oferecer uma almofada de aleitamento, ou uma bomba tira-leite. E quando o bebé nascer, antes de oferecer a minha ajuda para passar a ferro, vou oferecer todo o meu apoio, conselhos e dicas para um aleitamento materno bem sucedido.

Para ajudar a superar as dificuldades próprias desta etapa, é possível recorrer à associação SOS Amamentação, no blog, ou através do site www.sosamamentacao.org.pt.

Aproveito para partilhar um excerto do post publicado pela SOS Amamentação intitulado "Riscos do Leite Artificial", acerca de um estudo efectuado pela DECO já há alguns anos:

"Assim, os Riscos do Leite Artificial são:

* Interfere na relação mãe-filho
* Episódios mais frequentes de diarreia e infecções respiratórias
* Maior frequência de desnutrição e de carência em micro-nutrientes
* Maior frequência de doenças cardiovasculares
* Maior frequência de diabetes e de tumores
* Menor desenvolvimento cognitivo
* Menor espaçamento entre gravidezes
* Maior incidência de depressão pós-parto
* Maior incidência de tumores maternos
* O leite em pó não é um produto estéril, ao contrário dos leites artificiais líquidos
* O leite em pó pode ser contaminado a nível industrial no processo de produção com bactérias patogénicas (até 14% de amostras testadas)."


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Lista de ingredientes para um mundo melhor: 1. Amor

O mundo, não poderá ser melhor enquanto não o for para as crianças.

Para isso não há fórmulas mágicas, poções milagrosas, equações matemáticas. Só uma palavra, Amor. Lamento não usar palavras mais floreadas, expressões mais elaboradas, seriam inúteis. E não mais claras.
Amor incondicional, amor desinteressado, amor. Muito amor, nos momentos bons e nos momentos de birras. Quando dormimos bem e quando não pregamos olho. Quando nos apetece abraçar o mundo e quando o que apetece é mandar todos à fava e dar pontapés em tudo o que se nos mete no caminho.

Eles precisam de que nós estejamos sempre lá. Firmes e constantes. Somos as suas paredes, o teu tecto e o seu chão.

Queremos que sejam inteligentes, por isso tentamos que aprendam depressa a ler, escrever, fazer contas, tentamos ensinar o alfabeto mesmo antes de aprenderem a falar. Queremos que sejam fortes e cresçam depressa, que sejam os maiores, os que nadam melhor, tentamos ensiná-los a andar antes de aprenderem a gatinhar.

Queremos que sejam felizes, os mais bem sucedidos, queremos ensiná-los a atingir objetivos antes de aprenderem a amar. Antes de os ensinarmos, pelo exemplo, a amar de forma incondicional.

Sejam paredes, mas sejam também tecto e chão, almofada e manta. Sem medo de estragar.


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Palavras certeiras

Chegada a casa, sacos na mão, bebé no chão, mala para cima do sofá, o S. abre a porta, o D. atira com o casaco e agarra o comando da televisão antes daquele cair em cima do cadeirão. As chaves, o S. coloca-as sem pensar, e sem eu ver, em cima da secretária.

Cinco minutos mais tarde, o S. passa pela secretária e nota que as chaves ficaram onde ele as colocou. Pega no peluche enorme que serve para encontrar as chaves dentro da mala, balança-o diante de mim e comenta, em tom de repreensão:

"Olha, Mãe. Depois dizes "Sandro viste a minha chave"!"

E tem muita razão - excepto na parte em que foi ele que deixou as chaves no sítio errado - porque, como tem tão boa memória visual, é o único em casa que sabe sempre onde está tudo, mesmo que esteja no sítio errado. Basta ter olhado para lá. Então damos por nós à procura de algo pela casa toda e a perguntar "Sandro, sabes onde está?". E sabe sempre! :-)

sábado, 7 de abril de 2012

Sintomas

Detectar um caso de autismo pode ser, como já disse noutros posts, difícil, sobretudo quando os sintomas não são muito constantes ou evidentes.

No caso do meu filho, desde os primeiros anos notava-se que a resposta aos estímulos não era "igual às outras crianças", no entanto não haviam atrasos significativos no seu desenvolvimento que fizessem suspeitar de uma perturbação do desenvolvimento. Pensava-se que era "tímido", "sossegado", "calminho", e sobretudo, do que mais o rotularam foi de "preguiçoso" e "teimoso". Na minha opinião, algumas destas características têm muitas vezes que ver com a própria personalidade, mas se se juntam muitas delas, é suspeito.

O S. começou a dizer as primeiras palavras com menos de um ano, aquelas monossilábicas que só os pais entendem, para chamar ou assinalar algum objecto. Mas não evoluiu como deveria, e com três anos ainda não "falava". Juntava palavras sem formar frases completas, e fazia-o de forma desordenada. A ecolalia - o termo Ecolália designa uma patologia caracterizada pela repetição, como um eco, das últimas palavras, sílabas, parte das palavras ou frases que chegam ao ouvido da pessoa - por vezes manisfestava-se, sobretudo como resposta, isto é, se lhe preguntássemos "queres gelado de morango ou de limão?", a resposta era "...limão". Se no entanto perguntássemos de novo invertendo a ordem das opções, ou seja "queres gelado de limão ou de morango?", a resposta seria "...morango". Concluímos que ele respondia a última palavra que ouvia.

Começou a andar relativamente tarde, com quase um ano e meio: "preguiçoso". Por outro lado, desde muito cedo demonstrou interesse em comer sozinho e fê-lo sem problemas.

Brincar "ao faz de conta", uma etapa essencial do desenvolvimento das crianças, foi practicamente "saltada". De facto o S. "aprendeu" a brincar quando o irmão, três anos mais novo, começou a fazê-lo.