sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O caminho do conhecimento

Li hoje no perfil de uma pessoa conhecida recentemente, que foi a viajar que lhe aconteceram as melhores coisas da sua vida. E que com todas as viagens que fez, aprendeu muito e cresceu muito como pessoa. Isto levou-o a uma conclusao: que se as pessoas viajassem mais, desapareceriam os malditos nacionalismos.

Eu acrescentaria: o maldito racismo, a xenofobia, a descriminaçao religiosa, cultural, e todas as formas de desrespeito pelos nossos pares.

Conhecer o mundo, longe dos destinos turísticos prefabricados pelas máquinas de fazer dinheiro, iguais entre si, é possível aprender as liçoes das nossas vidas. Por vezes para encontrarmos a resposta que está diante do nosso nariz, é necessário percorrer meio mundo. Isso lembra-me o famoso best seller do mais-que-conhecido escritor Paulo Coelho, "O Alquimista". A viagem do humilde pastor por todo o deserto em busca do seu sonho de encontrar um tesouro junto das pirâmides do Egipto, forneceu-lhe experiências e ensinamentos que nunca teria podido obter na sua terra, junto das suas ovelhas. No entanto, ao chegar ao seu desejado destino, o rapaz compreendeu que o tesouro esteve sempre no local de onde partiu, junto das ovelhas, na Andaluzia espanhola.

Boas viagens.

sábado, 1 de novembro de 2008

"Asha: adolescente, violada y lapidada"

É este o título da reportagem de hoje do diário espanhol El País. E prossegue - "A jovem acusada de adúltera e executada por islamistas na Somália tinha 14 anos.

Nem era uma mulher, nem tinha 24 anos, nem era adúltera. Se há um país no mundo en que o mal se converte em pior, ese sítio é desde há décadas, a Somália. E a história de Asha Ibrahim Dhuhulow, a suposta mulher de 24 anos apedrejada em público a passada segunda-feira na cidade portuária de Kismayo, é apenas um reflexo. Porque nao era mulher, mas quase criança. Asha nao tinha 24, senao 14 anos. Nao havia cometido adultério. Tinha sido violada por três homens do cla mais poderoso da cidade. Apoiados pelo tribunal islâmico imposto pelas milícias de Al Shabab, a morte a pedradas da menor serviu para apagar qualquer rasto do crime."

Resulta-me difícil imaginar que tipo de sentimentos tem um ser humano que entranhar, ou desentranhar, para poder cometer uma acçao destas, e ainda mais me custa imaginar de que forma se chega a adquirir esses sentimentos. O artigo acrescentava que entre os milhares de assistentes presentes, vários homens tentaram saltar as filas para socorrer a jovem, ao que os militares responderam com disparos contra a multidao, ferindo várias pessoas e matando UMA CRIANÇA. Três vezes se comprovou se a jovem ainda estava viva, tirando-lhe o capuz que lhe envolvia a cabeça. Um capuz de donde saíam soluços quando a amarraram e enterraram até ao pescoço.

Se todos sabemos que estas coisas acontecem, - nao é um caso isolado - se todos sentimos a urgência de actuar, porque motivo continuamos a compartilhar o silêncio permissivo e cúmplice que nos cala a todos? A impotência que por vezes se impoe nao nos pode impedir de divulgar, denunciar, acusar, e condenar qualquer acto que ponha em causa os direitos e a dignidade dos seres humanos. A nossa indignaçao tem que ser ouvida, nao basta que nos sufoque. E quem pode, deve fazer algo. Basta de atrocidades, basta de fanatismo, basta! Liberdade religiosa é uma coisa, e deve ser respeitada porque, simplesmente, cada um acredita no que quer! Mas isso nao dá a ninguém o direito de "castigar" quem nao tem as mesmas crenças, pelo que a lei de um país nunca poderia ser baseada em leis religiosas. Se este simples princípio fosse respeitado por todo o ser humano, nao haveria base para assassinatos deste tipo. Os únicos criminosos, desde qualquer ponto de vista, seriam sempre os violadores desta menina.

Disse a alguém, noutro contexto, há uns dias, que acredito que todoos os seres humanos sao seres perfeitos e sábios em potência. Este tipo de acontecimentos chocam, horrorizam e revoltam, mas sao uma prova do longo caminho que alguns desses seres ainda têm que percorrer para chegar à sabedoria. E a consciência de que esse caminho tem que ser percorrido individualmente, e que implica um crescimento pessoal difícil e progressivo, vai contra a minha vontade de fazer justiça. Haverá um ponto de equilíbrio? Onde se encontra? Qual é o limite entre o necessário crescimento da alma e a paz no mundo? O karma determina tudo isto? Até que ponto tenho que suportar o mal que se gera à minha volta? Qual é o meu papel em tudo isto?