quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O método TEACCH





Desde o início do presente ano lectivo, o S. encontra-se integrado numa sala de ensino estruturado que segue o modelo TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication Handicapped Children).



A decisão de pedir a transferência do S. para outra escola, para que ele pudesse ter apoio dentro da sala de aula e em paralelo tivesse um espaço individualizado e livre de distracções para trabalhar, foi tudo menos pacífica. É inevitável a relutância em colocar uma criança com competências num meio que obviamente não é nada estimulante, uma vez que todos os casos que lá foram parar antes são muito mais severos, e o risco de imitação de estereotipias e comportamentos negativos, ou seja, retrocessos, é real. De facto, há dias em que o Sandro se comporta como os colegas da sala TEACCH, o que nos deixa - a nós, pais - irritados e frustrados, com medo de não ter tomado a melhor decisão. Tem dias.


O reverso da medalha, ou neste caso, a cara - deixando o lado menos positivo como o reverso - é que em cerca de três meses, o S. demonstrou adquirir mais conhecimentos que nos dois anos em que esteve inserido numa sala de aula com apoio duas/três vezes por semana. É justo esclarecer que o S. começou o primeiro ano sem qualquer apoio, sem estar sinalizado nem diagnosticado, com seis anos de idade, que durante esse primeiro ano não beneficiou de apoio significativo, e que durante o ano seguinte, já com diagnóstico e com as alíneas correspondentes, lá foi adquirindo algumas bases, com as limitações que a falta de recursos do Ministério impuseram, ganhando pouco a pouco mais confiança na sua capacidade para aprender, reduzindo a ansiedade. No entanto a diferença é notória, e mesmo com uma inclusão reduzida na sala de aula, os progressos do S. são evidentes: com o método das 28 palavras, já lê todas as palavras leccionadas e palavras novas com as sílabas que já conhece, demonstra curiosidade em relação a palavras que ainda não conhece, a caligrafia é razoável e muito mais fluída, revelando que agora a aprendizagem resulta de um jogo interessante e não de uma imposição tortuosa. Normalmente, é ele quem toma a iniciativa de começar a fazer os trabalhos de casa, e quando não é assim, basta uma breve negociação para o convencer a executá-los.


Por outro lado, outro efeito positivo que já esperava  - e não me enganei - é que o S. está a aprender a ser mais tolerante com as pessoas que sabem menos que ele, ou que têm mais dificuldades, como é o caso de crianças mais novas. É uma grande lição, que eu só comecei a aprender com a ajuda do S., ou seja, muito recentemente.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Confiar nas pessoas

Dizia-me no outro dia uma das pessoas mais queridas, que nunca mais voltaria a cometer o mesmo erro: confiar nas pessoas.

Lembro-me de lhe ter perguntado, a certa altura durante a conversa, se se sentia mal com a situação, a de ter confiado, e de me ter respondido que sim, claro. Sentia-se obviamente mal porque se sentia enganado. Mas não era essa a minha questão. Reformulei-a, pretendia saber se o facto de ter confiado, independentemente do uso que tivessem feito dessa confiança, o fazia sentir-se mal.

Depois de uma breve troca de frases, concluí, ou concluiu, que o que o fazia sentir-se mal era o feedback, ou seja, a resposta que teve como consequência, mas que no fundo a atitude de demonstrar confiança lhe deixava uma sensação de dever cumprido, de consciência tranquila.




O caminho é esse, ou pelo menos o caminho em que eu acredito: demonstrar confiança, e por outro lado, demonstrar que se pode confiar. Fico feliz por pensar que todos nós sabemos no fundo o caminho a seguir. Só falta termos vontade de o fazer. E não desistir cada vez que quebram a nossa confiança. É que, penso eu, há pessoas que têm de percorrer um caminho mais longo do que outras.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Seguir em frente (com autismo)

As pessoas mudam a cada dia e desde que comecei este blog... sou outra pessoa, alguém irreconhecível aos olhos de quem me conhecesse, ou lesse, há três anos atrás. Sobretudo porque o tempo não vem sozinho, o tempo trás tudo com ele, traz conflitos, aborrecimentos, rompantes, roturas, prémios, surpresas. Mudamos. Mas é uma mudança relativa, porque realmente não o é, é antes um reajuste das características intrínsecas da nossa personalidade. Mas adiante.

Quando o S. foi diagnosticado com uma Perturbação do Espectro do Autismo sem outra Especificação, no CADIn, em Junho de 2009, o primeiro sentimento foi de alívio. Quem já esteve na pele de pai ou mãe de uma criança que se suspeita ter problemas, à espera de respostas, sabe do que falo, para os restantes, explico que os pais sabem ou intuem desde cedo que alguma coisa está mal, só não sabem o que é, ou não têm a certeza, apesar das inúmeras opiniões que só ajudam a aumentar a ansiedade, mas que de utilidade, normalmente não têm muito.

Quando tivémos a certeza de que os comportamentos e dificuldades manifestados pelo S. tinham uma explicação, que não era problema nosso como pais, pudémos finalmente aceitar essa condição e começar finalmente a deitar mãos à obra, ou fazê-lo de uma forma mais consciente, segura e definida.



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Super-Mães

Há muitas. E não andam por aí de capa e fato de lycra, a única vestimenta comum a todas é um sorriso de orelha a orelha e um grande par de olheiras.
Senão, vejamos. Levantar cedo, por volta das sete e meia, depois de ter acordado entre uma e três vezes durante a noite com a pirralha a querer mama... banho, vestir, cabelo, maquilhagem, beijos de bons dias, pequeno almoço, preparar almoço para levar, - se é que uma lata de sardinhas, uma fatia de pão caseiro e uma banana se pode chamar almoço - mudar a fralda e vestir a pirralha, indicar roupas aos pirralhos, correr para o trabalho, trabalhar sem pausa, correr para a reunião de pais do pirralho maior, correr para ir buscar o segundo pirralho e depois a pirralha. Casa. Lanches. Mama. Pôr a maquina da roupa a lavar. Chamadas importantes. Preparar roupas para amanhã, saco da natação. Trabalhos de casa. Passar a ferro. Preparar jantar. Dar banho à pirralha, e depois o jantar. Jantar. Mediar em birras e brigas. Perguntas. Respostas. Mimos. Beijos.
Este dia é dos calmos...