Desde o início do presente ano lectivo, o S. encontra-se integrado numa sala de ensino estruturado que segue o modelo TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication Handicapped Children).
A decisão de pedir a transferência do S. para outra escola, para que ele pudesse ter apoio dentro da sala de aula e em paralelo tivesse um espaço individualizado e livre de distracções para trabalhar, foi tudo menos pacífica. É inevitável a relutância em colocar uma criança com competências num meio que obviamente não é nada estimulante, uma vez que todos os casos que lá foram parar antes são muito mais severos, e o risco de imitação de estereotipias e comportamentos negativos, ou seja, retrocessos, é real. De facto, há dias em que o Sandro se comporta como os colegas da sala TEACCH, o que nos deixa - a nós, pais - irritados e frustrados, com medo de não ter tomado a melhor decisão. Tem dias.
O reverso da medalha, ou neste caso, a cara - deixando o lado menos positivo como o reverso - é que em cerca de três meses, o S. demonstrou adquirir mais conhecimentos que nos dois anos em que esteve inserido numa sala de aula com apoio duas/três vezes por semana. É justo esclarecer que o S. começou o primeiro ano sem qualquer apoio, sem estar sinalizado nem diagnosticado, com seis anos de idade, que durante esse primeiro ano não beneficiou de apoio significativo, e que durante o ano seguinte, já com diagnóstico e com as alíneas correspondentes, lá foi adquirindo algumas bases, com as limitações que a falta de recursos do Ministério impuseram, ganhando pouco a pouco mais confiança na sua capacidade para aprender, reduzindo a ansiedade. No entanto a diferença é notória, e mesmo com uma inclusão reduzida na sala de aula, os progressos do S. são evidentes: com o método das 28 palavras, já lê todas as palavras leccionadas e palavras novas com as sílabas que já conhece, demonstra curiosidade em relação a palavras que ainda não conhece, a caligrafia é razoável e muito mais fluída, revelando que agora a aprendizagem resulta de um jogo interessante e não de uma imposição tortuosa. Normalmente, é ele quem toma a iniciativa de começar a fazer os trabalhos de casa, e quando não é assim, basta uma breve negociação para o convencer a executá-los.
Por outro lado, outro efeito positivo que já esperava - e não me enganei - é que o S. está a aprender a ser mais tolerante com as pessoas que sabem menos que ele, ou que têm mais dificuldades, como é o caso de crianças mais novas. É uma grande lição, que eu só comecei a aprender com a ajuda do S., ou seja, muito recentemente.
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