Li hoje no perfil de uma pessoa conhecida recentemente, que foi a viajar que lhe aconteceram as melhores coisas da sua vida. E que com todas as viagens que fez, aprendeu muito e cresceu muito como pessoa. Isto levou-o a uma conclusao: que se as pessoas viajassem mais, desapareceriam os malditos nacionalismos.
Eu acrescentaria: o maldito racismo, a xenofobia, a descriminaçao religiosa, cultural, e todas as formas de desrespeito pelos nossos pares.
Conhecer o mundo, longe dos destinos turísticos prefabricados pelas máquinas de fazer dinheiro, iguais entre si, é possível aprender as liçoes das nossas vidas. Por vezes para encontrarmos a resposta que está diante do nosso nariz, é necessário percorrer meio mundo. Isso lembra-me o famoso best seller do mais-que-conhecido escritor Paulo Coelho, "O Alquimista". A viagem do humilde pastor por todo o deserto em busca do seu sonho de encontrar um tesouro junto das pirâmides do Egipto, forneceu-lhe experiências e ensinamentos que nunca teria podido obter na sua terra, junto das suas ovelhas. No entanto, ao chegar ao seu desejado destino, o rapaz compreendeu que o tesouro esteve sempre no local de onde partiu, junto das ovelhas, na Andaluzia espanhola.
Boas viagens.
Por acreditar que é possível e que está nas mãos de todos nós. Porque enquanto não acreditarmos, nunca vai acontecer. Porque partilhar experiências é partilhar conhecimentos. Porque partilhar as alegrias transmite alegria, e partilhar as desventuras... bem, alivía quem se queixa. E também pode transmitir esperança. Aqui fala-se de tudo o que me diz respeito, pelo menos um pouco. De coisas de pais, de filhos, de autismo, de lições de vida, de lições da escola.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
"Asha: adolescente, violada y lapidada"
É este o título da reportagem de hoje do diário espanhol El País. E prossegue - "A jovem acusada de adúltera e executada por islamistas na Somália tinha 14 anos.
Nem era uma mulher, nem tinha 24 anos, nem era adúltera. Se há um país no mundo en que o mal se converte em pior, ese sítio é desde há décadas, a Somália. E a história de Asha Ibrahim Dhuhulow, a suposta mulher de 24 anos apedrejada em público a passada segunda-feira na cidade portuária de Kismayo, é apenas um reflexo. Porque nao era mulher, mas quase criança. Asha nao tinha 24, senao 14 anos. Nao havia cometido adultério. Tinha sido violada por três homens do cla mais poderoso da cidade. Apoiados pelo tribunal islâmico imposto pelas milícias de Al Shabab, a morte a pedradas da menor serviu para apagar qualquer rasto do crime."
Resulta-me difícil imaginar que tipo de sentimentos tem um ser humano que entranhar, ou desentranhar, para poder cometer uma acçao destas, e ainda mais me custa imaginar de que forma se chega a adquirir esses sentimentos. O artigo acrescentava que entre os milhares de assistentes presentes, vários homens tentaram saltar as filas para socorrer a jovem, ao que os militares responderam com disparos contra a multidao, ferindo várias pessoas e matando UMA CRIANÇA. Três vezes se comprovou se a jovem ainda estava viva, tirando-lhe o capuz que lhe envolvia a cabeça. Um capuz de donde saíam soluços quando a amarraram e enterraram até ao pescoço.
Se todos sabemos que estas coisas acontecem, - nao é um caso isolado - se todos sentimos a urgência de actuar, porque motivo continuamos a compartilhar o silêncio permissivo e cúmplice que nos cala a todos? A impotência que por vezes se impoe nao nos pode impedir de divulgar, denunciar, acusar, e condenar qualquer acto que ponha em causa os direitos e a dignidade dos seres humanos. A nossa indignaçao tem que ser ouvida, nao basta que nos sufoque. E quem pode, deve fazer algo. Basta de atrocidades, basta de fanatismo, basta! Liberdade religiosa é uma coisa, e deve ser respeitada porque, simplesmente, cada um acredita no que quer! Mas isso nao dá a ninguém o direito de "castigar" quem nao tem as mesmas crenças, pelo que a lei de um país nunca poderia ser baseada em leis religiosas. Se este simples princípio fosse respeitado por todo o ser humano, nao haveria base para assassinatos deste tipo. Os únicos criminosos, desde qualquer ponto de vista, seriam sempre os violadores desta menina.
Disse a alguém, noutro contexto, há uns dias, que acredito que todoos os seres humanos sao seres perfeitos e sábios em potência. Este tipo de acontecimentos chocam, horrorizam e revoltam, mas sao uma prova do longo caminho que alguns desses seres ainda têm que percorrer para chegar à sabedoria. E a consciência de que esse caminho tem que ser percorrido individualmente, e que implica um crescimento pessoal difícil e progressivo, vai contra a minha vontade de fazer justiça. Haverá um ponto de equilíbrio? Onde se encontra? Qual é o limite entre o necessário crescimento da alma e a paz no mundo? O karma determina tudo isto? Até que ponto tenho que suportar o mal que se gera à minha volta? Qual é o meu papel em tudo isto?
Nem era uma mulher, nem tinha 24 anos, nem era adúltera. Se há um país no mundo en que o mal se converte em pior, ese sítio é desde há décadas, a Somália. E a história de Asha Ibrahim Dhuhulow, a suposta mulher de 24 anos apedrejada em público a passada segunda-feira na cidade portuária de Kismayo, é apenas um reflexo. Porque nao era mulher, mas quase criança. Asha nao tinha 24, senao 14 anos. Nao havia cometido adultério. Tinha sido violada por três homens do cla mais poderoso da cidade. Apoiados pelo tribunal islâmico imposto pelas milícias de Al Shabab, a morte a pedradas da menor serviu para apagar qualquer rasto do crime."
Resulta-me difícil imaginar que tipo de sentimentos tem um ser humano que entranhar, ou desentranhar, para poder cometer uma acçao destas, e ainda mais me custa imaginar de que forma se chega a adquirir esses sentimentos. O artigo acrescentava que entre os milhares de assistentes presentes, vários homens tentaram saltar as filas para socorrer a jovem, ao que os militares responderam com disparos contra a multidao, ferindo várias pessoas e matando UMA CRIANÇA. Três vezes se comprovou se a jovem ainda estava viva, tirando-lhe o capuz que lhe envolvia a cabeça. Um capuz de donde saíam soluços quando a amarraram e enterraram até ao pescoço.
Se todos sabemos que estas coisas acontecem, - nao é um caso isolado - se todos sentimos a urgência de actuar, porque motivo continuamos a compartilhar o silêncio permissivo e cúmplice que nos cala a todos? A impotência que por vezes se impoe nao nos pode impedir de divulgar, denunciar, acusar, e condenar qualquer acto que ponha em causa os direitos e a dignidade dos seres humanos. A nossa indignaçao tem que ser ouvida, nao basta que nos sufoque. E quem pode, deve fazer algo. Basta de atrocidades, basta de fanatismo, basta! Liberdade religiosa é uma coisa, e deve ser respeitada porque, simplesmente, cada um acredita no que quer! Mas isso nao dá a ninguém o direito de "castigar" quem nao tem as mesmas crenças, pelo que a lei de um país nunca poderia ser baseada em leis religiosas. Se este simples princípio fosse respeitado por todo o ser humano, nao haveria base para assassinatos deste tipo. Os únicos criminosos, desde qualquer ponto de vista, seriam sempre os violadores desta menina.
Disse a alguém, noutro contexto, há uns dias, que acredito que todoos os seres humanos sao seres perfeitos e sábios em potência. Este tipo de acontecimentos chocam, horrorizam e revoltam, mas sao uma prova do longo caminho que alguns desses seres ainda têm que percorrer para chegar à sabedoria. E a consciência de que esse caminho tem que ser percorrido individualmente, e que implica um crescimento pessoal difícil e progressivo, vai contra a minha vontade de fazer justiça. Haverá um ponto de equilíbrio? Onde se encontra? Qual é o limite entre o necessário crescimento da alma e a paz no mundo? O karma determina tudo isto? Até que ponto tenho que suportar o mal que se gera à minha volta? Qual é o meu papel em tudo isto?
sábado, 25 de outubro de 2008
Caminho interior
Desde sempre existiram pessoas iluminadas, fora do contexto da sua sociedade contemporânea, que soltaram frases daquelas que parece que ninguém percebe, ou que não fazem sentido a não ser que tenhas fumado alguma substância alucinogéna antes. Coisas do tipo "faz amor e não a guerra", "Ninguém caiu tão baixo que não possa ser levantado pelo amor", "Mudar o mundo é fácil, basta mudar a nossa mentalidade"... Inocentes ou conscientes? Sábios ou totós?
Todos temos desde cedo a noção do bem e do mal, apesar de haver sempre discrepâncias quando se fala de valores segundo a educação e a experiência pessoal de cada um. Vamos moldando esses valores, e esses valores vão moldando a nossa existência, dando a impressão de que as circunstancias da nossa vida nos condicionam de forma inevitável a uma forma de pensar. Isto está confuso, sei que parece não haver relação entre uma coisa e outra. Pasteur disse uma vez que eram "infelizes os homens que têm todas as ideias claras". Isso lembra-me a teoria de que as pessoas que menos pensam nas coisas são mais felizes do que as outras. Verdade ou mentira? Senão vejamos: se eu passar a vida sem me preocupar demasiado com nada, sem me chatear com ninguém, sem me irritar quando algo corre mal, isso deve ser bom, isto é, aparentemente se nada me pode fazer infeliz, posso ser feliz. Será? E contentar-me apenas com o que vier, sem nunca desejar nada, sem sentir ambição, sem lutar por um sonho, sem sequer sonhar - porque quando sonhas e lutas por esse sonho, terás que suportar frustrações e desilusões, e ainda assim continuar em busca da realização desse sonho - sem emoção, sem tomar decisões, viver com resignação? Por outro lado, é possível sonhar, tomar decisões, questionar, e ainda assim aceitar de forma pacífica aquilo que a vida me proporciona? Em caso afirmativo, esta opção não roça de alguma forma o conformismo? Como podemos transformar o mundo conformando-nos simplesmente? Será essa a chave? Se todos nos conformarmos o mundo pode ser um sítio melhor? Até que ponto? Outra opção: Passar a vida inteira contestando, irritando-me e lutando freneticamente por um ou vários objectivos. Sim, aqui falo de objectivos porque desta forma é muito fácil esquecermo-nos dos sonhos, e substituí-los por objectivos. Deixamos de viver a busca do sonho, para passar a viver para a concretização do objectivo. Sem colher os pequenos frutos que nos vão aparecendo pela beira da estrada. Há que parar um pouco pelo caminho, de vez em quando, e repensar onde queremos chegar e porque queremos lá chegar. Olhar para a paisagem e desfrutar dos pores-do-sol. Estar atento aos sinais, porque no caminho encontramos muitos... é só preciso estar desperto. E aqui chegamos ao ponto fulcral. O despertar! Eu despertei não há mito tempo. Não sei bem como foi, nem sei se aconteceu de repente ou se foi acontecendo. Provavelmente ainda está a acontecer. O que está claro é que passei como que a perceber certas coisas como se tivessem uma outra dimensão. As palavras, que sempre acreditei serem uma ferramenta eficaz para me expressar e comunicar, revelam-se agora, por vezes, insuficientes e incorrectas nelas mesmas... confuso? Amor, amizade, solidariedade... são todas sinónimos de um mesmo conceito, mais amplo, mais profundo, no entanto. Confundem-se, completam-se mas nunca chegam a definir completamente o verdadeiro conceito a que se referem. Aprendi que para aprender e entender, não é necessário ser a pessoa mais inteligente do mundo. Basta sentir. Utilizamos os sentidos diariamente, mas raramente optimizamos o seu uso. Aprendi que não se pode descartar uma ideia, uma impressão, uma teoria, um sentimento, só porque a nossa razão não o consegue explicar. Porque esta é o mais adulterável de todos os sentidos que possuímos, e o que mais muda ao longo da nossa vida. Aprendi também que o medo é o pior veneno da alma, entorpece os sentidos, impede-nos de ver os sinais ou de confiar em que eles são reais. Sinto-me como se tivesse acabado de nascer, ainda com poucas ferramentas para poder entender o que tudo significa, mas com a clara noção de que algo mudou. Os meus valores mudaram, como se tivesse repensado as minhas prioridades. Não o fiz. Ressenti. A palavra não tem o significado que lhe estou a dar, eu sei. O que quero dizer, e é tão óbvio que parece ridículo que não haja uma palavra para o definir, e que tenha que usar tantas palavras para o explicar, é que senti uma alteração profunda na ordem daquilo que eu considero realmente importante.
Todos temos desde cedo a noção do bem e do mal, apesar de haver sempre discrepâncias quando se fala de valores segundo a educação e a experiência pessoal de cada um. Vamos moldando esses valores, e esses valores vão moldando a nossa existência, dando a impressão de que as circunstancias da nossa vida nos condicionam de forma inevitável a uma forma de pensar. Isto está confuso, sei que parece não haver relação entre uma coisa e outra. Pasteur disse uma vez que eram "infelizes os homens que têm todas as ideias claras". Isso lembra-me a teoria de que as pessoas que menos pensam nas coisas são mais felizes do que as outras. Verdade ou mentira? Senão vejamos: se eu passar a vida sem me preocupar demasiado com nada, sem me chatear com ninguém, sem me irritar quando algo corre mal, isso deve ser bom, isto é, aparentemente se nada me pode fazer infeliz, posso ser feliz. Será? E contentar-me apenas com o que vier, sem nunca desejar nada, sem sentir ambição, sem lutar por um sonho, sem sequer sonhar - porque quando sonhas e lutas por esse sonho, terás que suportar frustrações e desilusões, e ainda assim continuar em busca da realização desse sonho - sem emoção, sem tomar decisões, viver com resignação? Por outro lado, é possível sonhar, tomar decisões, questionar, e ainda assim aceitar de forma pacífica aquilo que a vida me proporciona? Em caso afirmativo, esta opção não roça de alguma forma o conformismo? Como podemos transformar o mundo conformando-nos simplesmente? Será essa a chave? Se todos nos conformarmos o mundo pode ser um sítio melhor? Até que ponto? Outra opção: Passar a vida inteira contestando, irritando-me e lutando freneticamente por um ou vários objectivos. Sim, aqui falo de objectivos porque desta forma é muito fácil esquecermo-nos dos sonhos, e substituí-los por objectivos. Deixamos de viver a busca do sonho, para passar a viver para a concretização do objectivo. Sem colher os pequenos frutos que nos vão aparecendo pela beira da estrada. Há que parar um pouco pelo caminho, de vez em quando, e repensar onde queremos chegar e porque queremos lá chegar. Olhar para a paisagem e desfrutar dos pores-do-sol. Estar atento aos sinais, porque no caminho encontramos muitos... é só preciso estar desperto. E aqui chegamos ao ponto fulcral. O despertar! Eu despertei não há mito tempo. Não sei bem como foi, nem sei se aconteceu de repente ou se foi acontecendo. Provavelmente ainda está a acontecer. O que está claro é que passei como que a perceber certas coisas como se tivessem uma outra dimensão. As palavras, que sempre acreditei serem uma ferramenta eficaz para me expressar e comunicar, revelam-se agora, por vezes, insuficientes e incorrectas nelas mesmas... confuso? Amor, amizade, solidariedade... são todas sinónimos de um mesmo conceito, mais amplo, mais profundo, no entanto. Confundem-se, completam-se mas nunca chegam a definir completamente o verdadeiro conceito a que se referem. Aprendi que para aprender e entender, não é necessário ser a pessoa mais inteligente do mundo. Basta sentir. Utilizamos os sentidos diariamente, mas raramente optimizamos o seu uso. Aprendi que não se pode descartar uma ideia, uma impressão, uma teoria, um sentimento, só porque a nossa razão não o consegue explicar. Porque esta é o mais adulterável de todos os sentidos que possuímos, e o que mais muda ao longo da nossa vida. Aprendi também que o medo é o pior veneno da alma, entorpece os sentidos, impede-nos de ver os sinais ou de confiar em que eles são reais. Sinto-me como se tivesse acabado de nascer, ainda com poucas ferramentas para poder entender o que tudo significa, mas com a clara noção de que algo mudou. Os meus valores mudaram, como se tivesse repensado as minhas prioridades. Não o fiz. Ressenti. A palavra não tem o significado que lhe estou a dar, eu sei. O que quero dizer, e é tão óbvio que parece ridículo que não haja uma palavra para o definir, e que tenha que usar tantas palavras para o explicar, é que senti uma alteração profunda na ordem daquilo que eu considero realmente importante.
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